O compliance está em constante transformação, impactado por mudanças regulatórias, tecnológicas e culturais. Ao projetarmos o futuro dessa prática, fica claro que o compliance deixará de ser uma área reativa e se tornará uma função estratégica, proativa e integrada aos negócios, com impactos profundos no ecossistema corporativo. Uma das inovações mais prováveis é a crescente digitalização. Nos próximos anos, a automação por meio da IA se tornará indispensável para que as empresas possam lidar com a complexidade regulatória.
Sistemas de compliance serão capazes de analisar grandes volumes de dados em tempo real para detectar anomalias, identificar potenciais riscos e alertar as equipes de forma preventiva. Ferramentas de IA e machine learning poderão prever violações e evitar que estas ocorram, baseando-se em padrões de comportamento e dados históricos.
Isso permitirá às empresas não apenas responder a crises, mas preveni-las, gerando um ambiente mais seguro e eficaz.
Além disso, com as regulamentações específicas para diferentes indústrias, essas tecnologias oferecerão personalizações automáticas de políticas, adaptando-se às diferentes jurisdições globais em tempo real. A IA também facilitará a gestão de terceiros, cruzando dados de diferentes fontes para garantir que parceiros de negócios sigam os mesmos padrões éticos.
A era do “risk by design� e o foco em ética e ESG
O conceito de compliance preditivo emergirá como uma das principais tendências. Ao contrário do modelo tradicional, que estabelece uma série de regras para evitar comportamentos indesejados, o compliance preditivo identifica o risco antes que ele se materialize.
Integrado com áreas como cibersegurança e gestão de dados, o compliance se tornará parte do DNA da empresa, sendo projetado em todas as fases de inovação e desenvolvimento de produtos e serviços, em um modelo chamado �risk by design�.
Assim, as empresas estarão constantemente avaliando e ajustando suas operações para mitigar riscos antes que eles se tornem ameaças concretas.
As questões ESG, por sua vez, já são uma tendência forte; mas, no futuro, a prática de compliance devera se entrelaçar cada vez mais com a sustentabilidade e a ética corporativa. Não se tratará apenas de evitar violações de leis ou regulamentos, mas de garantir que a empresa opere de forma transparente e responsável.
O compliance liderará a implementação de métricas ESG, garantindo que, além de cumprirem obrigações legais, as empresas exerçam um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.
Métricas de avaliação de riscos ambientais, direitos humanos e práticas trabalhistas deverão se disseminar cada vez mais, integradas a tecnologias como blockchain, que garantem maior transparência e rastreabilidade nas cadeias de suprimentos. A crescente pressão dos consumidores por produtos e serviços éticos também empurrará o compliance para uma função central em decisões estratégicas, colocando-o como um fator competitivo crucial.
O novo papel dos compliance officers
Os profissionais de compliance terão um papel mais estratégico no futuro. Eles não serão apenas os “guardiões das regras�, mas verdadeiros líderes de transformação. Sua função evoluirá para educar e engajar as partes interessadas, promovendo uma cultura organizacional que abraça a conformidade como uma parte essencial dos valores da empresa.
O futuro do compliance envolverá mais colaboração entre departamentos, com as áreas jurídica, de recursos humanos e de tecnologia da informação, entre outras, construindo uma visão integrada de risco.
A formação e a capacitação dos profissionais que atuam nessas funções também sofrerão uma mudança, com uma ênfase maior em habilidades tecnológicas e comportamentais, indispensáveis para que transitem de forma eficiente em um cenário digital e globalizado.
Regulação global e acordos transnacionais
À medida que a digitalização avança, os reguladores de diferentes partes do mundo precisarão colaborar estreitamente para harmonizar regras e práticas. Veremos o surgimento de acordos transnacionais que tentarão padronizar as normas de compliance em áreas como proteção de dados, privacidade e anticorrupção.
Por um lado, isso simplificará a vida das multinacionais; por outro, exigirá maior vigilância e adaptação. Nesse cenário, o compliance terá que lidar com a complexidade de múltiplos sistemas, ajustando suas práticas conforme regulamentações regionais e internacionais.
Ferramentas relacionadas a compliance contratuais poderão facilitar a conformidade, ao permitir que as regras sejam automaticamente aplicadas em operações globais.
Apesar de todas as inovações, o elemento humano continuará a ser o coração do compliance. As empresas precisarão promover uma cultura de integridade, em que todos os profissionais, sem exceção, estejam comprometidos com valores éticos.
Mais do que uma exigência regulatória, o compliance precisará ser visto como um diferencial competitivo, um atrativo para talentos e uma garantia de sustentabilidade de longo prazo.
O futuro do compliance será marcado por um equilíbrio entre tecnologia de ponta e princípios éticos sólidos. As empresas que souberem integrar esses dois elementos estarão em posição vantajosa para navegar em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e regulado, garantindo mais do que sua sobrevivência.